Os orgasmos dos outros

Eu nunca tinha vivido num prédio.
Ou melhor a minha casa anterior era um prédio, mas não um prédio comum.
Era pequeno e muito antigo e só tinha três casas ocupadas. A minha. A da vizinha do lado, uma senhora dos seus 75 anos que vivia sózinha. E a dos vizinhos de baixo, um casal de idosos, cujo homem estava entrevado numa cadeira de rodas.
Como devem calcular se era coisa que não se ouvia por aqueles lados eram orgasmos. Ou melhor, talvez eles ouvissem os meus. Eu é que não ouvia.
Mudei-me para esta casa há mais de dois meses.
Até agora tudo calmo.
No domingo resolvi deitar-me mais cedo do que o costume. Era meia noite.
Deito-me e passado uns curtos minutos começo a ouvir uns gritos desenfreados de uma mulher.
E como gritava.
Bolas.
Primeiro assustei-me, mas logo percebi que não lhe estavam a bater.
Ora bem, pensei eu, se estou aqui há mais de dois meses e nunca tinha ouvido tal coisa, das três uma. Ou era a foda do ano (e da maneira que gritava é bem possível), ou era a única foda do ano, ou então fazem-no sempre à mesma hora e como ainda não estou em silêncio nunca tinha ouvido.
Deixem-me que vos diga que não é uma coisa lá muito agradável.
Principalmente porque me deixou a pensar que eles provavelmente também me ouvem, e que isso não tem piada nenhuma. E piada nenhuma tem fazer sexo contido.
Isto de viver num prédio tem mais que se lhe diga do que pensava.
Dispenso ouvir os orgasmos dos outros!