Voz do Povo

São 10 minutos desde o transporte público à empresa. Faço-o diariamente a pé. Cruzo-me com muita gente e desde que comecei a deixar a música portátil em casa, ouço todo o tipo de conversas (sou cusca, admito). Ontem eram uns turistas americanos que perguntavam onde era o Elevador da Bica - e os polícias que não falavam inglês, lá deram as indicações. E os americanos, prepotentes, como é o seu estilo, comentavam convencidos que mais ninguém percebia a sua língua: «I'm always affraid that if you ask the wrong question, they'll start shooting.»

Ainda estive para me virar para trás e responder que isto podia ser um país de terceiro mundo, mas que os polícias ainda tinham o dedo pesado no que a gatilho diz respeito, mas achei que era muito cansativo para aquela hora da manhã.

Hoje a conversa foi outra. Cruzo-me com um grupo de senhoras africanas. Provavelmente recém-acabadas de trabalhar no seu turno de limpezas. Não tive tempo para ouvir mais nada a não ser esta frase:

- As mulheres são como os computadores... - fiquei a pensar em várias hipóteses.

1) Crasham?

2) Úteis?

3) Falíveis?

Não cheguei a qualquer conclusão. Aceitam-se sugestões. Mas achei de certa forma poético aquele desabafo africano-informático. A diferença destas senhoras para nós (Beri, Lady, Lola e eu) é que elas não estavam com estes desabafos numa esplanada a beber cocktails, nas suas roupinhas giras e cortes de cabelo fashion.

É um lugar comum, mas quer-me parecer que os problemas das mulheres são universais. Independentemente da raça, religião e estatuto social.

P.S. - Hoje estou com o humor de um frigorífico e nem sequer jantei sozinha em frente a um tabuleiro azul com risotto e snappy.