Consulta

Doutor: Conte-me lá o seu sonho.
Dita: É recorrente. Estou em casa. Tranquila. Nisto tocam à porta. Vou abrir. É um empregado da Molly Maid.
Doutor: Molly Maid?
Dita: Sim, aquela empresa de empregados da limpeza.
Doutor: É um homem que vem fazer a limpeza.
Dita: (suspira) E que limpeza…
Doutor: E depois?
Dita: O homem parece saído daqueles filmes da Playboy. Musculado, cabelo ondulado pelos ombros. Olhos claros. Acho que é eslovaco.
Doutor: Você deita lugares-comuns por todos os poros.
Dita: Conhece-me tão bem, senhor doutor.
Doutor: É para isso que me paga. E depois?
Dita: Depois ele pousa os baldes e as esfregonas e dedica-se a limpar-me as teias de aranha... entende?
Doutor: Não. Explique-me.
Dita: Ora, senhor doutor, preciso de lhe fazer um desenho?
Doutor: Estudei psicologia e não belas artes.
Dita: Está de bom humor hoje.
Doutor: Não desvie o assunto. Está a dizer-me que sonhou que andou às cambalhotas com o empregado doméstico? Qual é o problema nisso?
Dita: Já lhe disse que o sonho é recorrente?
Doutor: Já.
Dita: O problema é que tenho uma empregada. Gorda, de cabelo curto e alentejana. Acha que a devo despedir?
Doutor: Ela limpa bem?
Dita: Não.
Doutor: Nesse caso deixe estar. Ao menos assim não corre riscos desnecessários.
Dita: Riscos desnecessários?
Doutor: Sim. Não a quero partilhar com mais ninguém.