eu no cu não aprecio

Monday, August 21, 2006

Silly Season

É assim Agosto. Ou é do calor ou do ócio, ou mesmo de ambos. Dizem-se, fazem-se e ouvem-se coisas que se calhar durante o resto do ano não existiriam sequer. Mas é mesmo assim. Agosto é como os chuveiros imprevistos - passamos bem sem eles, mas por vezes são inevitáveis. Como a minha ausência por estes lados. Mas agora voltei e pronta para ser «desconstruída», afinal é bem mais difícil construir, mas temos que ser fortes e nem todos acham o mesmo que eu.

Por falar em chuveiros. Sábado à noite, jantar em casa de amigos - uns próximos, outros nem por isso. Não costumo fazer isto. Gosto do ninho e só saio para terrenos conhecidos, mas mesmo assim aceitei o convite. Os amigos em questão mereciam.

Chego atrasada - como sempre. Cumprimentos habituais. Já não estava com eles há algum tempo. Todos recordam as minhas piadas clássicas (que pena não as ter sempre na ponta da língua). Entro de rompante na sala da casa que ainda não conhecia e nesse momento, como diz a canção, o meu fôlego ficou suspenso. Plantada no meio da sala estava a criatura mais adorável que via em meses (ou talvez anos) . A criatura era um dos convidados mistério do jantar. Não sei porque artes mágicas tinha ido ali parar, mas agradeci aos deuses a sua presença.

A imprevisibilidade do encontro, e a minha falta de jeito para estas coisas originaram uma «fuga para a frente». De coração aos saltos dei dois passos na sua direcção e apresentei-me. Claro que se a coisa se passasse num filme, ficariamos à conversa os dois e ele apaixonar-se-ia perdidamente pela minha personlidade, mas tal não aconteceu. Os outros convidados entraram na sala e eu fui de fininho perguntar referências à anfitriã. Infelizmente a casa era pequena e a discrição impediu comentários. «É um colega.» «Ah», disse eu desalentada. Colegas há muitos, mas pronto, por ora, era o suficiente.

Descobri que somos os dois do mesmo clube e que sob pressão não consigo ser espirituosa, nem interessante. Ainda assim, consegui disfarçar o nervosismo. Depois de uns cocktails no terraço com vista para o Tejo, passámos aos salões para o jantar. E neste momento o destino começou a conspirar contra mim. Factos:

1 - Na distribuição dos lugares, apesar do lugar lisonjeiro à esquerda do anfitrião, fiquei longe do meu ponto de interesse;

2 - Os anfitriões, amantes de cantigas e tertúlias, desafiaram toda a gente para mostrarem os seus dotes vocais - que no meu caso são inexistentes. Mas os dele também. O pior mesmo é que o resto dos convivas estava a adorar o serão musical. Se fosse esperta, teria voltado ao terraço e ficaria à espera que ele me seguisse, mas isso só acontece nos filmes e definitivamente eu não sou esperta. Para mais estava frio e eu arriscava uma gripe, ainda por cima solitária;

3 - Ele tinha que trabalhar no dia seguinte, pelo que saiu mais cedo. Não querendo ser injusta para os simpáticos e artísticos anfitriões, para mim a festa acabou naquele momento.

Aguentei estoicamente até ao final e saí graciosamente sem dar a entender o alvoroço em que me encontrava. Nem a paragem obrigatória na operação policial me tirou o sorriso da cara e o resto de noite, já em casa foi povoado com pensamentos sobre a adorável criatura de quem não tenho sequer o número de telefone ou memória do apelido.

Que pena não ser um filme. Que pena não acontecerem as coisas dos filmes. Que pena isto poder ser tudo invenção da minha cabeça. Que pena estarmos em plena silly season.

1 Comments:

  • At 7:00 AM, Blogger Cereja said…

    Cara Dita,
    Antes demais é bom vê-la por estas paragens.
    Estou curiosíssima para ouvir a descrição dessa criatura. saber se é louro ou moreno, alto ou baixo, gordo ou magro. Que bom vê-la "entusiasmada".

    Um beijo

     

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